Escravidão na Antiguidade Clássica

A Antiguidade Clássica se refere a Grécia e Roma, mas especificamente trata-se do período entre os séculos VIII a.C. e V d.C. na região da Europa e outras áreas próximas a ela. Esse período se inicia com as poesias gregas de Homero tais como a Ilíada e a Odisseia e se finda com a queda do império romano do ocidente em 476 d.C.

Várias civilizações antigas escravizaram povos tais como os persas, babilônicos, egípcios, dentre outros

Algo que é importante ressaltar é que na antiguidade clássica, a escravidão era diferente daquela da idade moderna, diferente de quando os portugueses escravizaram os nativos que viviam no Brasil e do tráfico negreiro, quanto trouxeram povos da África para o continente americano.

O primeiro código de leis do mundo, escrito a mais de 3.700 anos, foi o Código de Hamurabi. Hamurabi foi um rei do grande império babilônico. Esse código de leis escrito a cerca de 1700 a.C. já falava sobre a escravidão. Com isso pode-se ver que já existiam escravos séculos antes da antiguidade clássica.

O termo escravo vem do latim sclavus, que significa algo como “pessoa que é propriedade de outra”, revelando que a pessoa nessa condição estava sujeita a outrem, e também de slavus, termo que pode se referir ao povo eslavo, o qual foi escravizado no passado.

Existiam muitas cidades-estado importantes na Grécia Antiga. Polis como Pérgamo, Corinto, Tebas, Olimpia, Delfos, entre tantas outras. Mas aqui será tratado sobre duas importantes cidades, a saber, Atenas e Esparta.

Na cidade que levava o nome da deusa da sabedoria, Atena, tem-se a democracia. Esse termo é a união de duas palavras gregas a saber demos e cracia (ou kracia). Demos significa povo e cracia, governo. Portanto significa o poder do povo ou o governo do povo. Contudo, a democracia ateniense era muito distinta da conhecida atualmente.

Em Atenas, apenas homens eram considerados cidadãos, mas eles precisavam ser atenienses, filhos de pais atenienses e ter mais de 18 anos. Mulheres, crianças e estrangeiros não gozavam dos mesmos direitos. Claramente isso ajudou no desenvolvimento de uma separação dentro da sociedade ateniense.

Areté e Kakia são duas palavras gregas. Areté significa virtude, enquanto Kakia tem sentido de imoralidade. Da palavra Areté vem o termo Aristocrata e a cidade de Atenas surgiu como uma polis aristocrática e o poder estava nas mãos dos aristocratas chamados Eupátridas.

Os Eupátridas eram os grandes proprietários de terra. Esses aristocratas tinham muitos escravos para cuidar de suas plantações e bens.

No passado haviam dois tipos de processos de escravização, os quais eram por conta de dívidas, ou seja, uma determinada pessoa passava a dever uma quantidade elevada para outra e se tornava escravo dessa até que a divida fosse paga. E também havia o escravizado de guerra, isto é, quando uma nação conquistava um território, levava alguns habitantes como cativos, escravos de guerra, eles eram tratados como espólio de guerra, prêmios de conquista.

Essas eram duas maneiras de escravização que aconteciam na Grécia e em Roma mas também em outras regiões do mundo antigo.

Até mesmo a Bíblia Sagrada relata um episódio interessante sobre o assunto, que se encontra no segundo Livro dos Reis 4:1 que diz que uma mulher, das mulheres dos filhos dos profetas, chamou o profeta Eliseu, pois seu marido, servo de Eliseu, havia morrido e provavelmente aquele homem havia deixado uma dívida para ser paga, pois, credores foram até a casa da viúva para tomar seus filhos para trabalharem a fim de quitar a dívida.

Em Atenas também havia esse tipo de escravo, o endividado. Esse tinha sua renda por seu trabalho e poderia se livrar daquela condição. É bom lembrar que a escravidão nessa época da antiguidade clássica não era por questão de etnias, era por guerras ou dividas, e esse tipo de escravo não ficava trabalhando nos engenhos de açúcar como foi com os escravos na época do Brasil colonial. Pode parecer estranho mas esses escravos trabalhavam como professores, pedagogos e até mesmo poderiam exercer cargos públicos.

Existiam vários tipos de escravos em Atenas, os escravos urbanos desempenhavam várias funções, tais como trabalhos de artesanato, construção civil e até mesmo como guardas, cuidando da segurança. Os escravos rurais, os quais trabalhavam nos campos desempenhavam funções mais pesadas como cuidar das terras. O trabalho como mineiro também era considerado difícil e cansativo.

A escravidão por dívidas foi abolida por um líder político de Atenas, um homem chamado Sólon. Sólon foi um legislador e poeta grego que nasceu em Atenas e era de uma família de aristocratas.

Alguns Eupátridas encurralaram economicamente alguns pequenos proprietários e por conta de dividas, tornaram-se escravos. Mas, abusando do poder, colocavam jutos altos sobre seus escravos e essas atitudes geraram revoltas.

Sólon era um arconte, arkhon em grego, é o responsável por um arkhê, um cargo. E ele era um legislador. Ao contemplar uma situação de dificuldades em sua cidade, confronta os aristocratas e reformula leis. Com isso ele faz a abolição da lei que fazia os endividados se tornarem escravos em Atenas. A abolição ocorreu no século VI a.C.

Além disso, cidadãos atenienses não poderiam ser escravos. Com isso, o número de escravos diminui acentuadamente, no entanto, para que a democracia existisse em Atenas, o escravo era necessário. Afinal, com os escravos trabalhando nos campos e nas cidades, os homens livres tinham mais tempo para se reunirem em teatros e ágoras para discutir sobre política, artes, crenças e diversos assuntos que faziam parte do cotidiano dos gregos. Reuniões em termas também eram atividades gregas.

Com tempo livre, obras de arte poderiam ser feitas. Os homens filosofavam sobre os mais variados assuntos e também frequentavam as assembleias para discutirem e aprenderem mais sobre os aspectos políticos e econômicos do momento.

Os escravos por guerra eram aqueles que tinha suas cidades conquistadas e derrotadas. Após a derrota, eles eram levados por comerciantes de escravos a pontos de venda de mercadorias, áreas com considerável concentração de pessoas ou nos portos.

Atenas possuía muitos escravos, tanto por guerras quanto por dividas, mas com a reforma de Sólon, esse número caiu. Foi então necessário expandir os limites territoriais com guerras contra outros povos. Com isso, mais prisioneiros de guerra eram feitos e consequentemente, mais escravos advindos de conflitos.

Outra importante cidade grega foi Esparta. A polis surgiu aproximadamente no século X/IV a.C. e foi uma grande cidade militar da Grécia antiga. Sua política era tremendamente diferente da organização de Atenas.

A organização social de Esparta tinha como base os escravos, que eram chamados de hilotas. Os hilotas eram os escravos da terra, os quais eram isentos de direitos e trabalhavam para sustentar Esparta e sua elite. Algo que deve ser informado é que em Esparta, o escravo não era propriedade de alguém, ele pertencia ao Estado e servia ao mesmo.

Acima dos hilotas haviam os periecos, homens livres tais como comerciantes, mas não tinham direitos políticos como os esparciatas, os quais estavam acima dos periecos na organização social espartana.

Esparta era uma cidade militar, portanto, os escravos obtidos em Esparta eram por meio de guerras e conflitos.

Os hilotas consistiam em mais de 50% da população e formavam a base da sociedade espartana, trabalhando sob o terror dos espartanos. Mas não eram somente escravos oriundos de conflitos, os espartanos conquistaram e derrotam os povos daquela região onde viviam e os escravizaram, isso também explica a grande diferença entre o número de livres e escravos nessa polis.

Roma cresceu muito com campanhas militares e conquistou uma parte considerável do mundo antigo. Seu poder e influência se estendeu imensamente e até os dias atuais o seu domínio impressiona aquele que estuda sobre ela.

Por meio de expedições militares e invasões, Roma se expandiu. Regiões que não resistissem a suas investidas eram poupadas, no entanto, passavam a fazer parte de Roma e deveriam pagar impostos e tributos aos romanos. Mas nem todos aceitavam a dominação romana de forma calma. Muitos que se levantaram contra Roma foram obliterados pelo poder avassalador dos exércitos romanos.

Na organização social romana também haviam os escravos como sendo a base de Roma e do trabalho. Em Roma os escravos também eram adquiridos por meio de guerras nessas investidas militares dos romanos ou por dívidas, da mesma forma que acontecia com os gregos.

Os escravos estavam na base, acima dele estavam os clientes, os quais não eram pessoas que entravam em lojas para comprar produtos como livros do jogos de vídeo game, os clientes, embora seja semelhante ao termo usado por pessoas que entram em estabelecimentos para adquirir um produto, eram, em Roma, pessoas livres, mas dependiam dos patrícios. Eles tinham o apoio de alguns romanos de forma política e econômica.

Acima dos clientes estavam os plebeus. Eles serviam no exércitos e eram artesãos e comerciantes. Não tinham os direitos dos patrícios e não podiam exercer cargos públicos.

No topo da organização social estavam os patrícios, os quais eram os grandes proprietários de terra, os aristocratas romanos que eram donos de fazendas, terras e animais.

Em Roma vários escravos eram utilizados para a diversão do povo. Eles eram lançados em arenas para lutarem como gladiadores.

O nome gladiador vem do latim gladiator, esse nome foi atribuído por conta do nome das espadas usadas por esses combatentes, tal espada era chamada de gládio.

Muitos morriam em combates sangrentos em arenas para diversão do público romano. Alguns gladiadores eram exímios guerreiros e tinham plateias que torciam pela sua vitória. Alguns lutadores ganhavam benefícios.

Mas, assim como alguns aristocratas gregos abusaram de seu poder sobre os escravos, em Roma, gladiadores foram maltratados e tratados com muita violência. Essa atitude gerou revolta e um dos gladiadores envolvidos era Espartaco ou Spartacus. Esse homem, provavelmente proveniente da Trácia, foi escravizado pelos romanos e forçado a lutar para o entretenimento das pessoas em Roma.

Devido as péssimas condições a que eram submetidos, Spartacus e um grupo de escravos que se uniu a ele, se rebelaram contra as forças romanas.

Um numero enorme de homens se uniu ao gladiador que durante três anos manteve uma revolta contra o maior império da época. Ele foi derrotado por Pompeu e Crasso, mas conseguiu sobreviver por cerca de três anos com sua revolta. Pompeu e Crasso foram os homens que formaram uma aliança com Julio Cesar chamada de Triunvirato.

Da mesma forma que aconteceu com a Grécia, em Roma também foi abolida a escravidão por dívidas e além disso, os plebeus poderiam exercer cargos públicos, isso conforme a lei Licínia Sextia. Isso ocorreu no século IV a.C.

Em Roma, quando um escravo era liberto, recebia o nome da família daquele que era seu dono, portanto, passava a ter cidadania romana após conseguir a libertação.

Mauricio Eduardo Farias de Miranda
Professor de História e Geografia, Tecnólogo em Redes e dono do Canal Portal Sigma no YouTube.

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